Em que planície se oculta
a semelhança das coisas e dos seres? Agora
que um sol avança pelo branco da cal,
pondo à vista os filamentos de treva que o dia
oculta, quantas colinas se erguem entre
um e o outro horizonte ! Visível, só
o arco que indica a saída do labirinto desenha
o círculo perfeito com que os últimos fins
se anunciam. E de cada porta, como se fosse
a morada provisória de quem passou, os rostos
assomam, sem que os vejamos, espreitando
uma transumância de profetas desempregados. Chamo
os seus nomes : soletro cada sílaba com
os seus sons inteiros, como se assim os corpos
se pudessem voltar a reunir, libertos
da mutilação ritual de madrugadas iniciais. Mas
o pó permanece sob o lodo, e o lodo sob o peso
de barcas afundadas, restos de remos, murmúrios
abstractos de uma navegação de sombras. Então,
qual das portas escolher? Que vulto
me espera por trás dos vidros? Nenhuma voz
me indica o caminho.